Conheçam a inspiradora história de Edinalva Borges

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Mineira de origem pobre conquista história de sucesso, e inspira crianças, jovens e idosos a se manterem em busca dos seus sonhos.

Nascida e criada em Araçuaí (MG), menina de infância pobre, Edinalva Borges vem de uma família de oito irmãos. Filha de Seu Valdomiro e Neide, ela perdeu a mãe aos 4 anos de idade, e desde então, foi criada pelo pai e pela madrasta, a quem ela atribui seu sucesso e garra. Hoje, neuropsicóloga, à frente de duas empresas da área de psicologia, Edinalva sempre ressalta a importância de a mulher não se vitimizar diante dos obstáculos. E com uma história de vida inspiradora, de quem soube enxergar cada dificuldade não como um problema, mas como oportunidade, ela fala da importância dos sonhos, e defende que não existe idade para sonhar.

Por não gostar de se colocar num papel de vítima, fala da infância com dificuldade. “Eu sempre procurei ser a primeira da turma. Em Araçuaí, as salas eram divididas em A, B, C, D…Na sala A estudavam filhos de médicos, advogados, de funcionários do Banco do Brasil, Caixa Econômica, Copasa, enfim, crianças que vinham de famílias de condição social melhor e, além dessas, as crianças que destoavam em termos de notas; eu me enquadrava nesse último perfil porque, desde muito nova, tinha muito claro que queria estudar muito”, conta Edinalva.

Numa antiga foto na escola, ela aparece com as havaianas tradicionais, azuis e brancas, em meio aos colegas bem vestidos. “Eu ia pra escola daquela forma, meus cadernos eram os  mais caprichosos, mas eram os mais simples, nunca tive caderno da Xuxa, nada disso… eu era pobre, magra demais, muito branca, destoava muito e por isso, sempre era chamada de Oliva Palito, de Biba…”, relembra.

Logo, logo se acostumou a ser excluída nos trabalhos em grupo, mas quando o trabalho era avaliado, era diferente. “Os colegas disputavam para se assentar perto de mim quando sabiam que ia ter divisão de grupo de algum trabalho que valesse ponto. O líder do grupo era encarregado de receber os demais colegas em casa para fazer o trabalho, mas lá em casa minha madrasta proibia, aí eu escolhia a casa do colega que fosse oferecer mais coisas gostosas pra comer, bolo, coxinha, refrigerante, nessa época era difícil demais eu poder comer essas coisas”, conta ela.

Enquanto as outras crianças assistiam desenhos de madrastas malvadas, a madrasta foi a mãe que Edinalva, e quando estava em casa, ela adorava ficar por perto. Com bom humor, se lembra do “tratamento” para dor de ouvido. “Eu queria participar de alguma forma, mas com o barulho da máquina, às vezes sentia dor no ouvido; falava com ela, e ela pingava óleo de máquina! Assim eram todas as vezes em que eu reclamava da dor, e eu gostava! Gostava do barulhinho que fazia, e acho que também pela atenção no momento, às vezes falava que estava com dor mesmo sem, só para ela pingar o óleo”, conta ela rindo; pra ela, apesar da simplicidade da falta de informação, foi um ato de cuidado e atenção que nunca causou nada grave.

Aos 14 anos, sempre com atitudes muitos diferentes das demais crianças, Edinalva fez uma escolha peculiar, decidiu que queria ser freira, e foi morar num convento. “Tinha uma freira que dava aula no colégio Nazaré, ela dava aula pro Jardim, e eu queria ser da sala dela, mas pela minha idade não podia ainda, minha prima estudava com ela, e eu sempre ia junto visitando, eu gostava tanto, que ela deixava. Eu falava: irmã, quando eu crescer vou ser freira igual a Senhora”, relembra ela.

Tanto falou que, ao completar 14 anos, as freiras perguntaram se queria fazer uma experiência. Longe das festas e comemorações da idade, Edinalva completou seus 15 anos no convento. Em tempo de completar três anos no local, tornando-se noviça, foi recomendada pelas freiras que interrompesse e repensasse sobre a decisão. “Eu nunca tinha tido experiência de namoro, era adolescente, e acharam que eu era muito nova para decidir por algo tão sério, apesar de que, na época, eu tinha convicção de que queria ser freira, as irmãs chamaram meu pai, e disseram que eu teria que sair e ficar um ano fora do convento”, diz.

Na sequência, com 17 anos completos, Edinalva teve a oportunidade de morar em Belo Horizonte, no apartamento de uma amiga, também de Araçuaí. Não precisaria pagar pensão, mas precisaria trabalhar para se alimentar, pagar os próprios custos, etc. “Para mim, foi muito difícil deixar minha cidade, minha família, mas fui em busca dos sonhos. Me inscrevi para o vestibular da UFMG e, minha amiga me ajudou no começo com alimentação, eu não tinha dinheiro nenhum”, se lembra.

Quando foi aprovada na primeira etapa do vestibular de uma das universidades mais concorridas do Brasil, conversou com o pai, pediu auxílio naquela fase, já que precisaria estudar ainda mais e ainda não tinha como se sustentar. “Ele disse que não tinha condições de me ajudar, morava no interior, não entendia essas coisas, então, decidi participar de uma seleção para trabalhar nas Lojas Americanas. Passei e, no dia da segunda etapa, não pude ir fazer a prova, cheguei a pedir para minha gerente, mas ela falou que eu não poderia porque esse horário estaria trabalhando”.

Mesmo trabalhando, o dinheiro era muito escasso e, aos domingos, quando não recebia vale refeição, ela conta que comprava uma lata de salsicha, comia metade no almoço, e a outra metade no jantar. “Fui excluída em Araçuaí, mas também em BH, lembro daquelas lanchonetes, MC Donnalds, Subway, eu não conhecia, não sabia como era, não podia”, relembra. O dinheiro que Edinalva conseguia juntar aos poucos, com trabalhos extras, usava para comprar presentes e passagens para visitar os parentes em Araçuaí. “Essa, era minha felicidade”, diz ela.

Em BH, ia conciliando o trabalho com estudo, tinha firme o objetivo e a vontade de estudar. Como não tinha conseguido entrar para faculdade, fez cursos de secretária, recepcionista, computação e diversos outros. Com o tempo, ia ganhando promoções nos empregos por onde passava, um lento processo, mas já era gratificante para ela.

Hoje, empresária e formada em neuropsicologia – área de especialização feita após o curso de psicologia, semelhante a  uma residência médica, Edinalva está à frente do Instituto de Saúde Física e Mental Edinalva Borges, que já tem quase 10 anos. Ela comanda também a Green House Sênior, spa e moradia para a idade madura com metodologia exclusiva, patenteada por ela, que coloca a saúde mental do idoso no centro das atenções.  “As pessoas têm que sonhar sempre, independente da idade. Eu ainda tenho sonhos, e vou ter até o dia que eu morrer. Hoje, meu sonho é levar justamente essa visão para a idade madura, estimular a cognição, a atividade física, a construção de objetivos, isso que nos move e nos mantém vivos”, afirma.

Citando Sartre, Edinalva defende que inspiração, condições ideais ou talento não são primordiais, foi o esforço que determinou as conquistas que teve até hoje, “não importa o que fizeram comigo, o que importa, é o que faço com o que fizeram comigo”. E, apesar das conquistas materiais que teve na vida, afirma que o bem mais valioso que existe é o conhecimento, que deve ser a principal aspiração de crianças e jovens. “O material passa, o que vai ficar é a humildade, é a essência, se perdermos a essência, nos perdemos no contexto de vida”, aconselha.

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